segunda-feira, julho 14, 2008

Forever Young

Share
Num dia em que Éolo deu ordens a Bóreas para fazer o seu trabalhinho com algum vigor no Alive 08, era com uma grande curiosidade que, para mim, começava o dia no Festival, pelas 19:20h, para ver os Midnight Juggernauts, o trio de Melbourne, Austrália, composto por Andy Juggernaut(cordas) , Daniel Stricker (bateria) e Vincent Vendetta(teclas).

No início, debaixo da cobertura, que tinha o espaço equivalente a um ringue de hóquei, era muito pouco o público que esperava pela banda junto ao palco. Foi por pouco tempo pois, depois de iniciarem a sua actuação, algumas centenas ocuparam o espaço.

Os Midnight Juggernauts apresentaram-se apenas com os seus instrumentos. Nada de artefactos especiais ou jogos de luzes, o que também não faria sentido já que ainda era dia. Apesar da energia da banda e da instantânea participação do público, logo que começaram a tocar, o som do espectáculo esteve sempre muito mau, soando a uma espécie de novelo sonoro que só se vêem as pontas mas que ninguém consegue desenrolar. A fechar o concerto tocaram "Into the Galaxy" que teve um final abrupto com a falta de energia no palco. O público que vibrava com a banda ficou desiludido e insistiu que a banda regressasse. Vincent Vendetta ainda brincou em palco com um xilofone pois essa seria a única forma de tocar sem amplificação. Daniel Stricker também se demonstrava desapontado. Abandonaram o palco e o público não arredou pé e foi insistindo para que voltassem. Ao fim de alguns minutos, a electricidade deu, novamente, à luz, e apesar de só uma via de som estar a funcionar, a direita, e não se perceber nada do que Vincent dizia ao microfone, toda a gente, a banda e o público, festejaram em grande o regresso e, em uníssono, cantaram e pularam o útlimo tema, a repetição de "Into The Galaxy", da actuação dos Juggernauts neste Alive.

Esperava ver uns Midnight Juggernauts com um som mais cuidado e mais perto do que são em "Dystopia". Também esperava algum cuidado cénico mas eles são apenas três tipos em cima do palco aos pulos. Ah, e o arpegio de "Into The Galaxy" é um sequenciador. O Vincent não dá uma para caixa, em termos de tocar teclas.

O mau som foi algo que não faltou no Metro Stage, já no dia 10, tanto os Vampire Weekend como os MGMT tiveram sons que ninguém, em dias maus, conseguia no velho Pavilhão do Belenenses. Ainda assim, os Midnight Juggernauts, em mau som, conseguiram bater a rapaziada de Brooklyn.

Tinha alguma curiosidade pela actuação de Róisín Murphy mas, devido à pequena dimensão do palco, também esperava que ela não se desse a muitos esforços no seu espectáculo. A minha tese desfez-se ao fim do segundo tema. Róisin Murphy não veio a Portugal para rubricar mais um espectáculo mas para assiná-lo.

Além de Róisin, em palco estiveram mais cinco músicos, e perdoem-me se me faltou algum. Além deles, Róisin foi, certamente, apesar de estar num palco quase de feira, a artista que mais vezes mudou de indumentária durante um espectáculo neste Festival, já para não falar num imenso número de chapéus ou, melhor, abat-jours, que mudou de quase dois ou três em três temas. Tudo estava ensaiado, e muito bem ensaiado, e este espectáculo que Róisin trouxe, passou por outras cidades e é ainda sobre o disco "Overpowered", do ano passado. E deverei dizer que este disco, depois de ver Roísin ao vivo, soa diferente, porque não estamos apenas a ouvi-lo mas a recordar a fantástica performance de Róisin e da sua banda. Com o espctáculo de Murphy ficou também provado que o mau som naquele palco, o Metro Stage (porque é que não se chamava o "Palco Metro" e porque é que tinham "Meeting Points" no recinto e não "Pontos de Encontro", receavam serem confundidos com algum programa da Sic Memória ou estavam com medo que os estrangeiros se perdessem e pedissem às polícias secretas dos seus países que enviassem helicópteros para que os salvassem deste povo bárbaro que os tinha sedado com vinho do Porto de 5 euros?), seria mais culpa dos técnicos, ou falta deles, das outras bandas do que das próprias condições. O som também não era extraordinário em Roísin, comparando com o do palco principal, mas parecia outro planeta, comparativamente com o som das outras bandas que já mencionei.

Depois de Róisin, rumou-se até Neil Young, jovem que já tinha visto ao vivo, há algum tempo, num espectáculo acústico que...lancem-me melões e melancias...detestei. As expectativas para ele, não eram grandes. Antes assim, porque foi mais um daqueles espectáculos a entrar para o meu Top 100 dos melhores espectáculos da minha vida. Penso até editar um livro:"Os 100 Concertos Que Tem Que Ver Na Sua Vida". Uma ideia original, não?

Neil Young não tem 62 anos. Aquilo é uma máscara de cera e muito trabalho de make-up que lhe fazem diariamente.

Estiveram lá todas:"Rockin´In The Free World", "The Needle And The Damage Done", "Get Back To the Country", "Mother Earth", "Unknown Legend", ...E, felizmente, o público aderiu e cantou e acompanhou Young e a sua banda: Ben Keith, Rick Rosas, Chad Cromwell, Anthony Crawford e Pegi Young (esposa de Neil).

O que mais me impressionou foi o empenho e a energia de Neil Young dada ao longo de mais de duas horas de espectáculo que, calculo, não deverá ser fácil, com a sua idade, numa digressão europeia de Verão em que já tinha feito doze espectáculos, antes de Lisboa. Houve até tempo para partir umas cordas. Os miúdos adoraram.

Bóreas, com o passar das horas, parecia que ia ganhando mais fôlego e só mesmo o calor que vinha do palco, daquele folk ´n´roller, é que nos ia fazendo esquecer o frio. O público também ia ajudando e daí ainda houve um encore que, curiosamente, foi com um tema de uns rapazes conhecidos por Beatles. Sim, foi uma grande prestação de "A Day in The Life".

A seguir veio Ben Harper. Ou melhor, Ben Harper. O Ben Harper que viram este ano, o ano passado, há dois anos. Sim, ver Ben Harper é um pouco como "Groundhog Day", com Bill Murray e Andie Macdowell. A mesma história repete-se vez após vez, após vez... Os tapetes no chão. Os agradecimentos do sempre simpático Harper e uma performance com brilho mas sem lustro. Não há ali uma nota em falso. Não há algo diferente de nenhum concerto que já tenha dado em Portugal. Ben Harper é o mensageiro da mensagem dada para quem não conhece emissários anteriores ou para quem não os quis ouvir. Neil Young não se importa porque, certamente, não tocaria às horas que Harper tocou, mas não deixa de ser irónico que Ben Harper seja o artista, no palco principal, a fechar um Festival que teve duas das maiores figuras da canção política e de intervenção dos Estados Unidos da América e do mundo livre, Neil Young e Bob Dylan.

Fui jogar matraquilhos com o Bóreas.